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Joyce Moreno

9 de jul. de 2023

Cataventos, de Hermínio Bello de Carvalho

Parceiro de Cartola, Dona Ivone Lara, Paulinho da Viola, Pixinguinha. Letrista de choros de Jacob do Bandolim e cantado por Chico Buarque, Elizeth Cardoso, Elza Soares, Gal Costa, Ney Matogrosso e uma infinidade de outros nomes da música brasileira. Escritor, compositor, letrista, poeta, apresentador e produtor, Hermínio Bello de Carvalho celebra seus mais de 70 anos de carreira com o lançamento digital do disco Cataventos pelo Selo Sesc no dia 12 de julho, com shows de lançamento nos dias 15 e 16 de julho no Sesc Pinheiros.

O álbum Cataventos é um espanto. Faz a gente se perguntar: como um homem de 88 anos, com a história e as realizações de Hermínio Bello de Carvalho, consegue ainda ter fôlego para lançar uma obra inédita desse porte?Quando tantos bem mais novos que ele já se aposentaram, penduraram as chuteiras ou se mantiveram num círculo de eternas repetições, vivendo de antigas glórias, eis que esse guerreiro cultural rompe a cortina do passado e nos apresenta esta série de canções inéditas, de fio a pavio, com parceiros não tão recentes e outros que recém-foram alunos e alunas seus/suas na Escola Portátil de Música… Só mesmo um HBC (como a gente preguiçosamente se refere ao nosso amado poeta) para dar conta de tarefa tão gigante! Claro que aqui falo do letrista, de suas tantas canções, mas vejam a abertura com a grandiosa Fernanda Montenegro – sua nova amiga de infância – aquela voz inconfundível, dizendo o poema “Labirinto”, para em seguida desaguar em “Cobras e Lagartos” na igualmente inconfundível voz de Maria Bethânia… É um poema dentro do outro, como um caprichoso origami, anunciando que agora virão as novíssimas canções. E lá viemos eu e meu parceiro Alfredo Del Penho, ô sorte! para abrir a porteira das novidades, com o samba “Louva-a-deus”. E vem toda uma juventude linda cantar Hermínio: Gabi Buarque, Ayrton Montarroyos, Vidal Assis, Pedrinho Miranda, Giulia Drummond… Além da divina Alaíde Costa, do “one and only” Marcos Sacramento, da tão amada pelo nosso poeta Áurea Martins, da “voz de água” (definição “herminiana”) de Zé Renato, do querido (e também valoroso pesquisador) Pedro Paulo Malta… Até chegarmos, de volta ao começo, àquele parceiro que se tornou compositor por incentivo de Hermínio, nos distantes anos 1960: Paulinho da Viola. E fecha-se o ciclo de forma sublime, com Dona Fernanda, mais uma vez e um deslumbrante poema musicado com perfeição por Vital Lima, “Enunciação”. Com direção de produção de Helton Altman, produção musical e arranjos de Lucas Porto (outra cria da Escola Portátil, hoje respeitado violonista e arranjador), capa de Mello Menezes – estes “Cataventos” giram em tantas direções que deixam a gente tonta, de tanta beleza. Mil vivas a Hermínio Bello de Carvalho, que o poeta está cada vez mais vivo!

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